O MOLEIRO

Cheirosa e suave a tarde expira

e a sombra alastra sobre a ponte

volta a casa o moleiro que suspira

embalado pelo rumorejar da fonte.

Arquejante sob o peso dos anos

o moleiro acorda ao alvorecer,

leva taleigas de grãos e enganos

que darão a farinha do seu viver.

Vigia os rodízios no constante girar

e a mó que necessita de ser tratada

na rotina do desgaste do trabalhar

e que tempos a tempos é martelada.

Roda o moinho ao luar vagabundo

envolto num lençol de prateado luar

ganha o moleiro um alento profundo

ao eternizar o moinho e o seu cantar.

~~Vive o moleiro no moinho isolado

que o faz viver em constante sonhar

num sonho que com tom magoado

a água expressa no seu rumorejar.

Nos rodízios gastos do velho moinho

que giram à força da queda de águas

lamenta o moleiro isolado e sozinho

as desditas e as dilacerantes mágoas.

Numa azáfama de constante labuta

o moleiro trata com carinho e amor

as pás e as mós que o ajudam na luta

num viver contristado e cheio de dor.

Todos os dias a caminho da ribeira

vai o moleiro com as taleigas de grão

leva no corpo a dureza da canseira

e regressa com a farinha que dará pão.